terça-feira, 18 de novembro de 2008

A Voz infantil

A VOZ INFANTIL
Beth Amin


Voz falada e voz cantada são mecanismos distintos. A voz cantada é um mecanismo muito mais sofisticado sob o ponto de vista neurofisiológico. O seu treino é primordial para o canto saudável. Trabalhar com vozes infantis é um desafio e merece por parte do regente e/ou professor de canto, atenção especial. A laringe infantil NÃO É MINIATURA da laringe do adulto, e, portanto não está apta às mesmas tarefas. No bebê, a laringe é um órgão primordialmente relacionado à proteção das vias áreas. É um órgão extremamente efetivo para a proteção e muito pobre para a fonação. Neste período a criança ainda está aprendendo a lidar com a deglutição e a respiração. Com o tempo, desenvolverá a complexidade neuro-funcional necessária para a fonação.

Principais diferenças da laringe da criança, se comparada à do adulto:
1. Morfológicas: as cartilagens são mais próximas, a cartilagem tireóidea é mais arredondada, a epiglote é em forma de ômega, a dimensão anterior da laringe á mais curta e as pregas vocais são menores.
2. Histológicas: as cartilagens são mais maleáveis e flexíveis, a mucosa das pregas vocais não é diferenciada em camadas, com as do adulto, a porção membranosa é menor (porção fonatória igual à porção cartilagínea), fibras musculares ainda em desenvolvimento.
3. Topográficas: no recém nascido situa-se na altura da 3° vértebra cervical, descendo na infância até o equivalente à 5º ou 6º vértebra cervical.
É uma laringe mais frágil. Apesar da grande capacidade de recuperação, a laringe infantil não pode sofrer traumas freqüentes que venham a prejudicar seu desenvolvimento e conseqüentemente comprometer a longevidade vocal desta criança.
O choro do bebê é uma importante fonte do desenvolvimento da voz falada e da voz cantada. A espécie humana é a única que emite som ao nascer. Até a puberdade, a laringe estará se desenvolvendo, com fases de desenvolvimento e fases de descanso. O ensino o canto deve respeitar as limitações do desenvolvimento vocal. Na criança, a voz de peito pode ser usada com muita cautela, dando-se preferência ao uso da voz de cabeça. O trabalho com a respiração também deve ser gradual, sem grandes exigências de duração ou de força. Durante a puberdade as crianças sofrem uma grande transformação hormonal e a laringe se transforma mais drasticamente nos meninos. As pregas vocais dos meninos podem aumentar em até um centímetro e a freqüência fundamental (F0) baixar em até uma oitava. Este é um período de grande instabilidade e a resistência vocal nesta fase é bem frágil. Deve-se ter cautela com estes jovens adolescentes e um cuidado individual nesta fase, é indispensável.
Os problemas vocais na infância estão relacionados:
1. Às alergias em geral: rinites, bronquites, asmas, etc, que podem causar falta de sono, irritabilidade, problemas alimentares,
2. Aos abusos vocais: crianças muito ativas, que falam alto e gritam demais, devem ser observadas de perto e encaminhadas, se a voz for rouca e grave demais. Muitas vezes um profissional especializado deve ser procurado para orientar e/ou atender a criança, se necessário.
Especialistas indicam cautela no trabalho com a voz cantada, no sentido de se buscar repertório adequado, com exigências compatíveis ao desenvolvimento vocal e musical da criança. O instrumento está em desenvolvimento e necessita de treino adequado para continuar seu crescimento de maneira saudável. Os adolescentes podem precisar de atenção especial para lidar com o novo instrumento vocal e conseqüentemente com a nova voz. As estratégias que usava anteriormente na produção da voz cantada podem não funcionar depois da mutação.
Cantar em coral, é uma atividade muito saudável, estimula a socialização, a responsabilidade, a autocrítica e a auto-estima.
Os regentes devem ser bons modelos vocais e se possível, serenos na lida com estes pequenos cantores. O coro é o espelho do regente. Se o regente é ansioso, muito provavelmente atingirá seus cantores negativamente. Deve também ter cuidado com a própria voz, para poder cuidar da voz dos seus pequenos cantores.

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